As cidades se expandem, os espaços para construções diminuem e cada vez mais os seus habitantes são obrigados a residir em condomínios. Nos grandes centros predomina a verticalização, ainda a melhor forma encontrada de aproveitamento e distribuição do espaço disponível.
Desafios são lançados diariamente aos urbanistas de plantão.
Independentemente do nível do empreendimento, classes baixa, média ou alta, uma coisa é inevitável: a convivência em condomínio. Para os que optaram em residir em condomínios, por varias razões, são obrigados a planejar no orçamento a taxa condominial e a colocar na agenda as sempre produtivas reuniões.
Reuniões de condomínios são sempre pautadas por assuntos interessantes, interessantes porque embora pareça redundante, interessam a uma coletividade.
Outro dia, numa dessas assembléias, um fato me chamou a atenção, na verdade não só a minha, mas a de todos os presentes. Dona Custódia, a sindica, diante de todos teve que mediar um assunto muito delicado. A condômina do trinta e sete, uma senhora que mora sozinha, levantou uma reclamação pra lá de embaraçosa:
—Tenho a dizer que o barulho que os meus vizinhos do trinta e oito fazem à noite toda está me deixando doida. Doidinha — fala mordendo os lábios e virando os olhos.
— Mas qual é reclamação referente a nós, se mal passamos o dia no apartamento? — indaga a referida moradora, mulher jovem bonita, recém-casada.
— Vocês parecem que não dormem. É uma gemedeira sem fim. Gritinhos de ai ui prá lá, ai ui prá cá. Parece uma sessão de tortura. Não aguento mais. Estou ficando doidinha. Novamente morde os lábios e vira os olhos.
Surpresa com a resposta e com a face ruborizada, a jovem senhora não sabia onde enfiar a cara, mas não se fez de rogada:
— A minha vida privada é problema só meu e do meu marido, mas se estamos incomodando a senhora eu peço desculpas, embora a senhora tenha me constrangido. O que é que posso fazer?
— O que você pode fazer? Como eu disse não aguento mais. Estou ficando doidinha. Não aguento mais de tanta vontade. Ora continue fazendo, mas, por favor, me convida para participar pelo menos uma vez. Convida, vai.
Samuel De Leonardo (Tute) é publicitário. Atuou em diversas agências de Publicidade de São Paulo. Publicou os livros: “Hacasos” em 2016 e “Versos & Prosas” em 2022. Tem alguns de seus textos inseridos nos sites Recanto das Letras, Casa dos Poetas e das Poesias, e textos radiofonizados na voz do âncora Milton Jung, no programete Conte a sua história de São Paulo da Rádio CBN SP. samuel.leo@hotmail.com.br e Facebook@samueldeleonardo.