Aos noventa anos, o Senhor Antônio comparece uma vez por semana na mesma agência bancária, há décadas. Todos lá o conhecem.
Por algumas vezes a porta giratória bloqueia sua passagem, então pacientemente, sempre na mira do olhar autoritário do segurança, ele deposita na caixinha todos os seus pertences: celular, óculos, guarda-chuva, chaveiro, moedas, relógio, clipes, tampinhas de refrigerante, pregos…
Tampinhas de refrigerante, pregos? — Sim, os idosos adoram catar coisas que encontram pelo chão e guardá-los, vai que um dia precise.
Recentemente o banco mudou de bandeira e, além do aumento nas tarifas, aumentou a vigilância. O travamento da porta passou a ser rotina. Ultimamente esses episódios os têm irritado. Tira as bugigangas dos bolsos, recolhe as bugigangas e assim em todas as vezes que pretende entrar no banco.
Nosso bom velhinho, por pirraça e para irritar o segurança, a cada ida à agência aumenta o seu acervo, além dos bolsos cheios de quinquilharias agora carrega à tira colo um pequeno embornal, confeccionado em brim, com diversos objetos metálicos.
Um dia desses foi barrado, entre as variadas espécies de muambas, portava algumas ferramentas, como martelo, alicate e chaves de fenda. O homem fardado o adverte e o proíbe de entrar. Ele não se dá por vencido, na semana seguinte volta mais carregado ainda, agora com uma sacola de pano volumosa e pesada.
— Senhor o que carrega dessa vez?
Seu Antônio abraça a sacola como se agarrasse uma escopeta e não se faz de rogado:
— Tenho comigo uma poderosa arma alemã da Segunda Guerra.
O pânico é instaurado, gente se espalhando para todos os cantos, enquanto uns se atiram ao chão, outros correm para os fundos buscando refúgio. O alarme é acionado, clientes e seguranças se protegem. Um caos no estabelecimento.
Rapidamente o local é cercado por policiais. Curiosos logo se aglomeram enquanto agentes especiais logo conseguem dominar o elemento. Dada a fragilidade do nosso protagonista, é rendido com muita facilidade. Para surpresa de todos é constatado que a temível arma que o homem portava não passava de uma banal e antiga furadeira elétrica, dessas importadas com assinatura “Made in Germany”.
Seu Antônio apenas sorri e, em tom de ironia indaga aos policiais:
— Então, gostaram da minha arma alemã?
Contato: samuel.leo@hotmail.com.br e Facebook@samueldeleonardo.
Tags samueldeleonardo
Check Also
A CEIA DE NATAL
O Senhor Venceslau e Dona Olga, cristãos de carteirinha, mantiveram por décadas a tradição de …