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O apagar dos Vagalumes

Por: Péricles Garcia Valvassori
Dias atrás, estávamos sentados em uma roda de amigos do futebol, e na resenha pós-jogo, surgiu um assunto sobre exibicionismo, dança do acasalamento e uma comparação com um vagalume. Pronto, foi o que bastou para surpresa de um dos filhos de 11 anos ali presente: “pai, o que é vagalume?”… A partir dali, pai e filho pegaram seus celulares, entraram no Google, e para surpresa do jovem, em meio a todas aquelas brincadeiras, sim era verdade, existe sim o tal do vagalume. De carona, os demais ainda falaram: “gente, há quanto tempo não vejo um vagalume?” Pois é, diante do exposto, estávamos com duas situações distintas: a primeira, daqueles que até se esqueceram da existência dos vagalumes, de tanto tempo que não os veem aqui na metrópole; e na segunda, do jovem que além de nunca ter visto, se quer sabia de sua existência, sem demérito nenhum e deixando claro que, esse apagar dos vagalumes é aqui na cinzenta e poluída São Paulo né. Pois quem é, ou vai com frequência para o interior, saindo um pouco daqui da metrópole, ainda pode contemplar um céu cheio de estrelas e os tais pirilampos.
Em tempo, um pouco de história, ou se preferirem, de biologia né: os vagalumes ou pirilampos são insetos que encantam ou “encantavam” muito as crianças. São animais bem pequenos, medindo entre 10 e 25 milímetros, diferenciando entre macho e fêmea, por suas notórias emissões luminosas. Alimentam-se principalmente de vegetais, lesmas e outros insetos menores. A espécie mais comum no Brasil é a Lampyris noctiluca, na qual apenas os machos são alados.
A emissão de luz realizada pelo vagalume é chamada de bioluminescência e visa a comunicação biológica. Existem, ao redor do mundo, aproximadamente duas mil espécies de vagalumes, das quais cerca de 500 podem ser encontradas no Brasil, o país de maior diversidade destes insetos.
Apesar de sua importância para o equilíbrio ecológico e para estudos na área de biotecnologia e biomedicina, os vagalumes estão desaparecendo. As principais causas são a poluição, o desmatamento e o aumento da presença de luzes artificiais em áreas onde, antes, os vagalumes se localizavam. “O vagalume utiliza a própria luz para encontrar sua parceira sexual. E quando há um aumento das luzes artificiais, ela não consegue enxergar a luz do sexo oposto e não consegue se reproduzir. A continuidade da espécie fica, então, comprometida”. Portanto, as piscadas do vagalume são uma forma de atração sexual! Enquanto muitos insetos se comunicam através de feromônios, os vagalumes atraem seus parceiros pelas piscadas. Há também outros motivos pelo qual o vagalume pisca: para espantar predadores e também atrair algumas presas.
Agora, voltando ao assunto “apagão”… mas o por quê desse alarde todo?
É que até então, nossas novas gerações “apenas” não faziam mais as coisas que fazíamos quando crianças, tipo construir carrinhos de rolimã e outros brinquedos; estourar a tampa do dedão do pé, chutando bola na rua; fazer e empinar pipas; apanhar frutas no quintal dos vizinhos, dentre outras coisinhas simples do nosso cotidiano naquela época ok
Mas um destes itens citados acima, foi o que chamou a atenção e creio tem tudo a ver com o título deste humilde artigo: apanhar frutas no quintal do vizinho. Oras, que vizinho? Que quintal? Que árvore frutífera?
Observem à sua volta, o quão cinza está nossa São Paulo e nossa vizinhança.
Sem árvores, sem plantas, sem flores, sem frutas e claro, sem pássaros, sem insetos, e na verdade, sem vida.
Saudosismo à parte, essa(s) criança(s) não tem culpa por esse “apagar dos vagalumes”… mas pensem bem, um simples vasinho de manjericão, por exemplo, além do uso das suas folhas para nossa culinária do dia a dia, em sua florada, acreditem, atrai abelhas e até beija-flores, … portanto, plantar uma árvore, uma plantinha, uma floreira, ou cultivar uma hortinha que seja, é semear a vida. É trazer de volta pássaros e insetos, essenciais para polinização das flores e frutos, tais como as importantíssimas abelhas. Então porque não sonharmos juntos com mais verde, com mais flores, com mais frutos… e irmos além do contemplar a luz da lua e das estrelas… que seja possível voltar a encantar essa nova geração de crianças, com o piscar das luzes dos vagalumes. Fica a dica!

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