Moradores do bairro Boaçava, na Zona Oeste da cidade de São Paulo, tentam impedir que a Enel remova 101 árvores de uma área com cerca de 900 m². Segundo a distribuidora de energia, a medida é necessária para proteger a rede de energia de alta tensão que passa próximo das copas das árvores.
As árvores que serão removidas foram marcadas em vermelho. Ao todo, são árvores de 56 espécies diferentes, incluindo pau-brasil, figueira, palmeira, ipê amarelo e jatobá.
Ana Amélia Santos é moradora do bairro e pede que as árvores não sejam retiradas. “Porque minha família vive passeando por aqui. As árvores são frutíferas, é um espaço, em São Paulo, que a gente aproveita muito. Às vezes, a gente vem e come mesmo uma pitanga, uma amora e não é só a gente, o bairro inteiro. Todo mundo aproveita muito esse espaço.”
Silvia Maria Padin, presidente da Sociedade Amigos do Boaçava, diz que a remoção das árvores é “inadmissível”.
“Isso aqui é uma coisa que realmente nos chocou, de eles virem aqui assim abruptamente, sem mais nem menos, sem comunicação nenhuma, dizendo que vão fazer essa supressão de 101 árvores. Isso [a área arborizada], é frequentado não só pelos moradores, mas por toda a população que mora no entorno.”
Os cuidados com as árvores costumavam ser compartilhados com a Eletropaulo. Havia um acordo em que a empresa ficava responsável pela poda técnica e corretiva para não deixar que as árvores se aproximassem dos fios de alta tensão. A associação de moradores, que representa duas mil pessoas, cuidava da zeladoria, limpeza e jardinagem – um custo de R$ 18 mil mensais.
Marcos Mesquita, responsável pelas relações institucionais da Enel, explica que a remoção das árvores é prevista e “necessária” para que não haja apagões na rede elétrica.
“Ali [no bairro Boaçava], está passando 135 mil volts, na medida que esses fios se tocam entre si, eles geram um curto circuito e isso gera apagões na rede. Ao gerar o curto circuito, a tensão oscila, os transformadores desligam, para proteção do resto da rede, e você tem um apagão.”
O que diz a Enel – “Nós precisamos, frequentemente, fazer manejo de árvores que se aproximam muito da linha de transmissão. Em alguns casos, é possível, por podas sucessivas, fazer essa proteção. Em outros casos, a arvore já está tão grande que um risco de queda é muito grave e traria um prejuízo enorme para a prestação do nosso serviço.
A cada supressão de árvore aqui ao longo dessa linha, nós estamos fazendo uma compensação ambiental na ordem de plantar novas árvores, são cerca de oito árvores para cada uma que tenha sido suprimida em São Paulo.
A necessidade [de cortar as arvores] haverá. Disso, não tenha dúvidas. Seja hoje ou em período próximo, essas árvores precisarão ser suprimidas.”
Só um detalhe nos intriga, a fiação desta rede elétrica está a cerca de 20 metros ou mais de altura do solo e as árvores em questão estão a menos de um terço desta altura, ou seja, por hora não existe a menor possibilidade de qualquer uma destas árvores nativas ou frutíferas serem removidas. Além das árvores, existe, toda uma fauna de pássaros que visitam diariamente este jardim linear.
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