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MACALÉ

O menino trajava calça curta azul-marinho, camisa branca e, nos pés, exibia um conga — esse talvez novinho. Avistei-o na empoeirada ladeira da antiga Estrada 4, numa manhã de fevereiro de 1964. O período letivo estava começando e nos encontrávamos na estrada que, anos depois, deixaria de ser número e passaria a se chamar Avenida José Joaquim Seabra, no Rio Pequeno. Aproximei-me e fiz ao menino a mais óbvia de todas as perguntas naquelas circunstâncias — Você está indo para a escola? De imediato, ele respondeu sim, reforçando a fala com o movimento da cabeça.
Depois dessa “densa e longa” conversa, fizemos em silêncio o restante do caminho. Aquele era meu segundo ano na escola e, como se repetiria em todo início de período, estava na expectativa de fazer novos amigos entre a turma da classe— era assim que a gente chamava a sala de aula.
As instalações do Grupo Escolar do Bairro do Río Pequeno resumiam-se a dois galpões de madeira, que um dia tinham recebido uma demão de tinta azulada, com vidraças quebradas, tetos sem forro e buracos nas telhas de amianto, por onde entrava a luz matinal.
Nesse breve espaço de tempo teve início uma amizade que perdurou por anos.
Foi também nessa mesma ocasião que descobrimos que apenas algumas quadras separavam nossas casas, e isso contribuiu para que nos tornássemos amigos quase inseparáveis. Edson — nome com o qual eu o conheci — era um menino esperto e se tornou companheiro de incontáveis jornadas.
Com o Edson, o Tute — assim eu era conhecido pelos amigos — cursou o primário e o ginasial. Nese período, exploramos terrenos baldios onde jogávamos futebol e disputávamos partidas de taco e nos aventurarmos a ir mais longe, como nas partidas de futebol aos domingos à tarde no Morumbi,
Ainda nem éramos exatamente adolescentes quando tivemos que abrir mão das brincadeiras de crianças e encarar o batente. Agora era trabalho de dia e estudo à noite.
Mesmo assim, continuávamos próximos e juntos concluímos o antigo ginasial e ingressamos no ensino técnico em administração no Colégio Fernão Dias, em Osasco.
Concluído o colegial, seguimos caminhos diferentes e acabamos nos afastando. Nunca, porém, deixamos de nos encontrar esporadicamente.
Faculdade, trabalho, casamento e filhos nos tornaram ainda mais responsáveis do que éramos nos distantes anos de nossa infância e juventude. Algumas vezes conseguimos almoçar e tomar café juntos.
Dele, preservo diversas e boas lembranças — só o fato de me apresentar Billy Paul, mostra o quanto o cara era conhecedor de boa música. Infelizmente, vitimado pelo Covid, Edinho partiu, mas deixou muitas recordações. Ao menos três coisas com ele não consegui aprender: jogar futebol, sambar e tratá-lo por “MACALÉ*.

Samuel De Leonardo (Tute) samuel.leo@hotmail.com.br e Facebook @samueldeleonardo

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