por: Péricles Garcia Valvassori
Em meados dos anos 80, na pacata e aprazível cidade de Nova Resende, no Sul de Minas, ouvindo as “contações de causos”, uma mescla de verídicos, exagerados ou mentirosos, que um deles me chamou a atenção, não só pelo fato em si, até então inimaginável, mas por suas consequências. Foi o tal do “leite com lambari”… Conta-se que ali, antigamente, os carreiros passavam todas as manhãs com seus carros de bois, de sítio em sítio, para fazer a retirada dos galões tarro de leite, deixando um outro vazio para o dia seguinte, levando a produção de leite para uma cooperativa local. Eis que um dia, ao despejar o leite lá na cooperativa, surgiu o inusitado: um lambari saiu de dentro de um dos galões, ora um peixe no leite? Estaria a vaca soltando além de leite, lambaris pelas tetas? Claro que não! Um dos sitiantes produtores leiteiros, passou o galão primeiro no riacho e “batizou” o leite com um pouco de água. Só não sabem desde quando ele fazia isso, mas neste dia, um lambari entrou no galão juntamente com a água do riacho. Cabendo aqui o termo “seria cômico se não fosse trágico”, uma expressão popular que descreve uma situação tão absurda ou irônica que, apesar de ser engraçada, também é triste ou lamentável, pois a partir de então, a cooperativa não passou mais com o carreiro e cada sitiante tinha que levar a sua produção de leite, para ser examinada antes de ser misturada as demais. Ou seja, num efeito dominó, todos pagaram por um.
E agora, trazendo para os dias de hoje, vemos que o Brasil é a terra das oportunidades mesmo! Mas também dos oportunistas. Tudo isso, porque aqui as leis não funcionam, ou não são cumpridas, ou não são temidas, ou dá-se um jeitinho em tudo. Fato é que, aqui você abastece seu veículo, sem saber se o combustível está batizado ou não; os azeites que chegam de fora, de excelente qualidade, ao serem envasados aqui, são batizados; o leite pode não ter lambari, mas água sim; ou seja, para se produzir cada vez mais, mistura-se componentes mais baratos, aumentando a quantidade, diminuindo a qualidade.
Portanto, o tal “leite com lambari” existiu sim e continua a existir. Não é regra, claro. Mas a tal famosa “Lei de Gérson”, para os que não lembram da sua origem, a lei de Gérson surgiu na década de 70 quando o famoso jogador de futebol, serviu como garoto propaganda da marca de cigarros Vila Rica e disse a emblemática frase: “Eu gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também!
Isso, um dia tem que acabar. Seja pela imagem do Brasil e dos brasileiros. Seja pelos produtos que produzimos e consumimos. Seja por brio, honra, dignidade e amor próprio. Mas caso contrário, lamentamos, mas cuidado ao tomar leite, pois separados, até que vão bem, mas leite com lambari, aí não dá né!
Tags Leite com lambari
Check Also
A CEIA DE NATAL
O Senhor Venceslau e Dona Olga, cristãos de carteirinha, mantiveram por décadas a tradição de …