O Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, é um momento de alerta para a necessidade de conscientização em relação ao uso, abastecimento e saneamento. Neste ano, a campanha da Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) adotou o tema “Be The Change” (tradução: “Seja a Mudança”), com a proposta de incentivar as pessoas a mudarem a forma como usam, consomem e gerenciam a água, essencial para a sobrevivência de todos os seres do planeta, além de ser o recurso básico da humanidade e a origem de todos os alimentos para todas as espécies, mas a cada ano, sua disponibilidade diminui.
E pra piorar, segundo levantamento anual feito pela ONG SOS Mata Atlântica desde 2015, o rio Pinheiros é o mais poluído entre 120 corpos d’água da mata atlântica. Entre 160 pontos monitorados, a qualidade da água foi considerada regular em 75% dos casos, ruim em 16,2% e péssima em 1,9%. Não foi registrado nenhum com qualidade ótima. Todos os três locais que se enquadram na pior categoria ficam no rio Pinheiros.
Ao longo dos últimos anos, o rio, que se estende por 25 km, foi o foco da política de despoluição do governo de São Paulo. Inclusive, em 2019, o então governador Doria chegou a afirmar que o Pinheiros estaria limpo e com as margens recuperadas até 2022. Em nota, a atual gestão Tarcísio de Freitas, disse que intensificará políticas públicas e programas para a manutenção e complementação de ações voltadas à despoluição tanto do Pinheiros quanto do Tietê. O governo acrescentou que anunciará em breve essas medidas.
“O rio Pinheiros estava com uma qualidade muito péssima e agora está péssima”, afirma Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios, que realiza o estudo. “Isso quer dizer que o rio está melhorando, as obras foram efetivas, mas não está limpo.”
Ele ressalta que a forma como se deu esse processo foi interessante: as empresas que estavam realizando obras de coleta e tratamento de esgoto foram pagas depois que a qualidade dos rios e córregos que deságuam no Pinheiros melhorou.
Segundo a Sabesp, desde 2019, 650 mil imóveis foram integrados ao sistema de tratamento de esgoto na região e 86,6 mil toneladas de lixo foram retiradas do rio.
“Mais de 2 milhões de pessoas tiveram acesso a um serviço que não tinham. Só que ainda tem muita gente para ser assistida”, afirma o pesquisador.
A lentidão do fluxo do rio também é um empecilho: como a água escorre muito devagar, não circula o suficiente para que seja oxigenada, o que, por sua vez, prejudica o processo de decomposição do esgoto que já caiu no rio.
Veronesi diz que é essencial que as medidas de despoluição não parem. “Precisa ter continuidade, esse não é um projeto de governo. Temos que entender as obras de despoluição como política pública, de fato, não de governo. Não é em quatro anos que se resolve um problema de quase um século.”
A mata atlântica abriga mais de dois terços da população brasileira. Além disso, é o segundo bioma com maior cobertura de água do Brasil, com mais de 21 mil km² de superfície de água, perdendo apenas para a Amazônia (106 mil km²), de acordo com a plataforma Mapbiomas Água.
Os resultados mostram que quase 20% dos pontos analisados não têm condições mínimas para que a água seja usada no dia a dia —como pela agricultura e indústria, no abastecimento humano e animal e para lazer ou prática de esportes.
O estudo abrange 74 municípios de 16 estados da mata atlântica e mostra como a falta de saneamento é uma questão crônica no Brasil. O acesso à água em qualidade e quantidade é um direito humano essencial à vida. Apesar disso, não é distribuída de forma igualitária para a população: estima-se que cerca de 35 milhões de pessoas não possuam acesso à água potável no Brasil. De acordo com o marco legal do saneamento aprovado em 2020, até 2033, o acesso à água limpa precisa chegar até 97% da população e o tratamento de esgoto, até 90% dos brasileiros.
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