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Como a mudança brusca de rotina afeta a saúde

O último Censo brasileiro, realizado em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que ao menos 7 milhões de trabalhadores brasileiros trabalham na chamada “Jornada noturna de trabalho”, ou seja, das 22h até as 5h. Policiais, bombeiros, profissionais da saúde, entre outros, trabalham em jornadas noturnas tradicionalmente. Recentemente, para abraçar a demanda acelerada do estilo de vida das grandes cidades, muitos setores estão entrando em modelos de atendimento 24 horas por dia. Lanchonetes, mercados, conveniências e até academias começaram a manter suas atividades madrugada adentro. Para isso, alguém precisa trocar o dia pela noite.
A troca de turnos é um movimento que esbarra em questões fisiológicas do corpo, como explica a professora Frida Marina Fischer da Faculdade de Saúde Pública da USP. “O nosso organismo tem uma programação genética em que ele está ativo durante o dia e em repouso à noite. Todas as funções fisiológicas do organismo trabalham harmonicamente para facilitar o sono noturno e manter a vigília diurna.
Existe uma série de enzimas de absorção e de secreção de substâncias, produção de proteínas, reguladoras da viscosidade sanguínea, produção de anticorpos, enfim. Uma série muito grande de funções que são rítmicas e essas funções ficam alteradas com o deslocamento do ciclo sono vigília. A mudança tem efeitos na expressão de genes que vão fazer a regulação em vários osciladores rítmicos, principalmente os osciladores periféricos como fígado, pulmão, pâncreas, coração e até mesmo na memória”.
Efeitos no organismo: o corpo humano não sai impune dessa brusca mudança de rotina. “Quando a pessoa trabalha longas jornadas e dentro dessas longas jornadas ainda está incluído o trabalho noturno, o risco de distúrbios metabólicos é de três a quatro vezes maior que o normal, inclusive de diabete”, alerta a professora. Trabalhadores noturnos correm mais risco de sofrer de doenças cardiovasculares, distúrbios gastrointestinais e metabólicos (diabete tipo 2; síndrome metabólica); câncer (mama, próstata e colorretal); problemas de saúde mental, sobrepeso e obesidade, além de problemas relacionados à reprodução. Os sintomas se agravam com o acúmulo do tempo do trabalho à noite.
A especialista argumenta que a vida contemporânea depende da contribuição de profissionais que exerçam suas funções no período noturno. Postos de saúde, hospitais, serviços públicos essenciais e afins. “Será que a gente poderia abolir o trabalho 24 horas? Será que o mundo seria o mesmo? Será que nós teríamos internet, telecomunicações funcionando, água tratada e energia 24 horas, segurança 24 horas, segurança pública? Não teríamos. E será que a gente pode viver num mundo assim? Não podemos!”
Dessa forma, o trabalhador vai receber por nove horas trabalhadas acrescidas dos 20% por uma jornada de oito horas. “As pessoas que vão trabalhar nesses horários, primeiro têm que saber o que esses horários vão causar para elas. Mas uma forma de compensar o fato de a pessoa trabalhar em horários que fazem mal à saúde é fazendo ela ganhar um salário melhor e ter um maior número de dias de folga para se recuperar do trabalho. Ou seja, alguma compensação a sociedade tem que dar para podermos ter tudo que é preciso”, finaliza Frida. Fonte: saopaulo.sp.gov.br

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