Nas intervenções da série Carro Verde, que vem sendo realizadas desde 2007, veículos abandonados nas ruas de São Paulo são transformados em jardins simbólicos, trincheiras verdes que brotam da lataria recortada de carros, caçambas e ônibus inutilizados provocando a vertigem de uma outra cidade possível. Possivelmente a nossa!
O projeto de intervenção urbana “Carros Verdes” aponta duas questões urbanas que nos inquietam enquanto artistas e habitantes. De um lado a necessidade de se repensar a relação entre a ecologia urbana – os fluxos, recursos, territórios, histórias e ritmos – e as dinâmicas especulativas de nosso desordenado crescimento urbano.
De outro, se constitui comentário sobre a forma como a morfologia urbana se configurou a partir do imperativo do transporte exclusivo, individual e poluente cujos efeitos se estenderam para além do desenho e dos equipamentos urbanos e se entranharam na nossa própria cultura. O resultado é a automobilização da própria vida resultando em subjetividades isoladas, alienadas e desenraizadas de seu próprio território.
A estratégia dessas intervenções é buscar carros abandonados nas ruas – veículos que degradam o entorno mais próximo da rua – e convertê-los em pequenas ilhas verdes: abrir, limpar a sujeira, serrar partes, fazer furos na base do chassi para escoar água, forrar de argila e plantar!
Essa operação é tanto simbólica – na medida que cria uma miragem, uma imagem disruptiva da cotidianidade que provoca uma ilusão de uma outra realidade possível – como também programática. Elas criam um local onde os moradores e transeuntes se encontram, se apropriam e, de diferentes formas, ajudam a mantê-los como um bem público, uma gentileza urbana compartilhada que enseja uma experiência de convivialidade.
Mas não só de conveniências (no sentido do politicamente correto) resultam as intervenções com os Carros Verdes…há momentos que essa intervenção detona situações de transgressão, onde o carro se converte em uma barricada ao criar zonas cinzas, de invisibilidade forjando territórios de marginalidade.
Há praticamente uma estória diferente pra cada uma dessas intervenções . Há pessoas que se sentem agradecidas pela revitalização do carro que degradava o entorno. Já outras não vêm com bons olhos pois o carro abandonado se perpetuaria como um elemento a “roubar” uma vaga da rua.
Em áreas residenciais as pessoas costumam se apropriar mais da obra plantando, repondo espécies que foram suprimidas, tirando o lixo que se acumula.
Em áreas de maior trânsito o Carro Verde funciona num nível mais simbólico, a transgressão do gesto, a imagem de carro morto que renasce como organismo vivo. Essa fusão entre o político e o poético nos interessa bastante!
Rua Padre João Gonçalves, 81 – Pinheiros. Telefone 3814-0815. Site www.bijari.com.br
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